Há poucos dias, ao transitar pelas ruas, ouvi uma conversa entre dois homens que se julgam “homens de religião”. O contexto dessa conversa era a sociedade da União do Vegetal. Por questões de precauções jurídicas, tomo a sábia decisão de não revelar os nomes dos indivíduos, mas, deixo aqui registrado que o teor da conversa era em desfavor dessa religião que tem arrastado multidões. Afirmavam os dois homens que: “A UDV não passa de um grande erro humano que embriaga jovens e que desvia a verdadeira palavra Deus, a bíblia”. Hora! Se esses “homens de religião” julgam-se tão conhecedores da bíblia, devem saber que está escrito em Mateus 7, 1-3 “Não julguem, e vocês não serão julgados. De fato, vocês serão julgados com o mesmo julgamento com que vocês julgarem, e serão medidos com a mesma medida com que vocês medirem. Por que você fica olhando o cisco no olho do seu irmão, e não presta atenção á trave que está no seu próprio olho?”.
Afirmavam ainda: “Nós sim louvamos a Deus para todo mundo ouvir, não ficamos escondidos em sessões feitas em altas horas da noite”. Senhores, se lerem a bíblia com um pouco mais de atenção, tirando de seus olhos a poeira da ignorância nublada com a nuvem do preconceito, irão encontrar a seguinte passagem: “Quando vocês rezarem, não sejam como os hipócritas, que gostam de rezar em pé nas sinagogas e nas esquinas, para serem vistos pelos homens. Ao contrário, quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta e reze ao seu pai ocultamente; e o seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.” Mat. 6, 5-6. Ouvi-os ainda afirmar: “Nós que não somos pecadores como eles é que estamos certos, pois toda hora lembramos-nos de Deus falando o seu nome para que ouçam que somos homens de fé”. Pobres ignorantes! Está escrito em Mat. 7, 21-23: “Nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor, entrará no Reino do Céu. Só entrará aquele que põe em prática a vontade do meu Pai que está no céu. Naquele dia muitos me dirão: Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizamos? Não foi em teu nome que expulsamos demônios? E não foi em teu nome que fizemos tantos milagres? Então eu vou declarar a eles: jamais conheci vocês. Afastam-se de mim, malfeitores!”.
É triste ver absurdos como esses sendo proferidos por pessoas que vivem dentro das igrejas e se julgam homens sem erros. Frases simplórias como essas e descomprometidas com a verdade agravam ainda mais o sofrimento humano, porque geram orfandade, descrença e abandono. O moralismo é o melhor discurso para quem deseja excluir. Homens dogmáticos que justificam suas palavras de preconceito religioso como “vontade divina”, retirando assim a responsabilidade humana dos acontecimentos. É preciso equalizar o que se sente com o que se sabe. Toda a ação evangelizadora de Jesus passou pelo exercício dessa sabedoria.
E para que não restem mais dúvidas, a União do Vegetal é sim uma instituição religiosa, porque reconhece a existência de um único princípio criador, regulador, absoluto, supremo e infinito ao qual se dá o nome de Deus, porque é uma entidade espiritualista em contraposição ao predomínio do materialismo. Estes fatores que são essenciais e indispensáveis para a interpretação verdadeiramente religiosa do UNIVERSO, formam a base de sustentação e as grandes diretrizes de toda ideologia e atividade dessa sociedade. É uma sociedade que tem por objetivo unir os homens entre si. União recíproca, no sentido mais amplo e elevado do termo. E esse seu esforço de união dos homens, admite em seu seio as pessoas de todos os credos religiosos sem nenhuma distinção.
Sou católico apostólico romano, não faço parte da UDV. No entanto, escrevi esse texto porque abomino qualquer presunção de superioridade religiosa. Acredito em uma religião sem fronteira capaz de abraçar até os que pensam diferentes. Jesus afirmou: “onde estiver duas ou mais pessoas reunidas em meu nome, lá estarei.” Se Deus é por eles, quem são os homens para serem contra?
“Não existe religião alguma que seja falsa. Todas elas respondem, de formas diferentes, a condições dadas da existência humana.”
E. Durkheim
Por Hugo Brito
Jordão –AC.
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